terça-feira, 17 de agosto de 2010

EVANGELIZAÇÃO E EDUCAÇÃO




A EVANGELIZAÇÃO INFANTIL é um campo bastante propício ao emprego da simplicidade utilizada por Jesus para semear as verdades celestes.

Com efeito, a criança, na sua pureza e espontaneidade, reclama de nós, adultos, métodos e recursos simples para aprendizagem da Doutrina Espírita.

Espíritos muitas vezes mais inteligentes do que nós, os incumbidos de os evangelizar, as crianças exigem respeito, sinceridade e, acima de tido, amor, para que, através do nosso exemplo, continuem o seu percurso em busca da luz.

Assim é que a primeira regra para bem evangelizar consiste em não tratar a criança corno criança - isto é, como alguém incapaz ainda de apreender o sentido da Doutrina - e sim como Espírita eterno em evolução, com experiências próprias, adquiridas em muitos séculos de aperfeiçoamento. Dessa regra segue uma conseqüência inevitável: não se poderá impor à criança o nosso conhecimento doutrinário, pois isso seria uma violação do seu livre arbítrio, sendo tarefa do evangelizador apenas despertá-la para o interesse das coisas superiores.

0 nosso trabalho, portanto, não será, propriamente, o de transmitir-lhe conteúdos doutrinários e sim o de conduzi-la a buscá-los por si mesma, sem qualquer constrangimento, em consonância com sua maior ou menor predisposição para apreendê-los. Nossa função será a de indicadores do caminho, fazendo-a compreender que lhe compete, exclusivamente, a responsabilidade de palmilhá-lo.

Nessa linha de raciocínio, passamos a compreender a evangelização em sua feição educativa. Em verdade, ao evangelizarmos não nos devemos deter na instrução, naquilo que queremos informar, mas sim na educação, em como despertar a infância para o Cristo, para Deus. Nosso objetivo, portanto, deverá ser a formação do evangelizando, a aquisição de virtudes, por sua parte, e este objetivo não será alcançado se agirmos, em evangelização, como agem os professores nas escolas, porque nestas, não obstante o ideal de alguns, por enquanto se instrui, mas não se educa.

Se almejamos, realmente, evangelizar, temos de trabalhar com o material interno que a criança nos oferece, individualmente. Partiremos dos seus interesses, para que, estimulada por estes, possa descobrir, dentro de si mesma, o ideal eterno e com ele construir o seu destino. Por isso, o evangelizador precisa conhecer o evangelizando, as suas aspirações, o clima emocional em que vive. É preciso que aprenda a ouvi-lo para sentir-lhe a alma, a fim de procurar trazê-lo para 'Deus, na razão direta do seu interesse, sem violentar-lhe o livre arbítrio.

Esse procedimento não é fácil embora possa parecê-lo à primeira vista. Conscientes da verdade que a Doutrina Espírita encerra, nosso primeiro impulso é tentar dirigir o raciocínio infantil com a nossa lógica, a fim de que ele não tenha outra alternativa senão aceitar como certo aquilo que estamos afirmando. Agindo dessa forma, entretanto, praticamos duplo erro: apresentamo-nos à criança como donos da verdade, aproveitando a ascendência natural que possuímos sobre ela e impedimo-la de tirar as suas próprias conclusões, tolhendo-lhe a liberdade de exame.

Se desejamos, sinceramente, evangelizar, despertar para Deus o espírito infantil, é preciso aprender a dialogar sem impor, conversar conduzindo a criança não para os nossos pontos de vista, mas para o amor do Cristo, a fim de que ela possa concluir livremente, ao sabor das suas reais necessidades e da parcela da verdade que, como Espírito em evolução, possa, no momento, comportar.

Apresentemo-nos às crianças não como professores de Evangelho ou de Espiritismo, que, evidentemente, não somos, mas como irmãos que desejam trocar experiências com elas para aprender também. Mostremos-lhes que as suas opiniões valem tanto quanto as nossas e que só a Doutrina Espírita contém a verdade, assimilável pelo Espírito de acordo com o seu grau evolutivo.

Sejamos espíritas não só pelas palavras, mas, principalmente pelos nossos exemplos, façamo-las sentir que realmente as amamos e, assim, por certo, não estaremos simplesmente doutrinando, mas, em verdade, evangelizando.

Reformador – Fevereiro de 1975

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