Tema: Caridade
Livro: O Menino Ambicioso
O Servo Insatisfeito
E Outras Histórias
CÉLIA XAVIER CAMARGO
Laurinha, embora contasse apenas
com oito anos de idade, tinha um coração generoso e muito desejoso de ajudar as
pessoas.
Certo
dia, na aula de Evangelização Infantil que freqüentava, ouvira a professora,
explicando a mensagem de Jesus, falar da
importância de se fazer caridade, e Laurinha pôs-se a pensar no que ela, ainda
tão pequena, poderia fazer de bom para alguém.
Pensou...pensou... e resolveu:
-
Já sei! Vou dar dinheiro a algum necessitado.
Satisfeita com sua decisão,
procurou entre as coisas de sua mãe e achou uma linda moeda.
Vendo Laurinha com dinheiro na
mão e encaminhando-se para a porta da rua, a mãe quis saber onde ela ia.
Contente por estar tentando fazer
uma boa ação, a menina respondeu:
-
Vou dar esse dinheiro a um mendigo!
A mãezinha, contudo, considerou:
-
Minha filha, esta moeda é minha e você não pode dá-la a ninguém porque não lhe pertence.
Sem graça, a garota devolveu a
moeda à mãe e foi para a sala, pensando...
-
Bem, se não posso dar dinheiro, o que poderei dar?
Meditando, olhou distraída para a
estante de livros e uma idéia surgiu:
-
Já sei! A professora sempre diz que o livro é um tesouro e que traz
muitos benefícios para quem o lê.
Eufórica por ter decidido,
apanhou na estante um livro que lhe pareceu interessante, e já ia saindo na
sala quando o pai, que lia o jornal acomodado na poltrona preferida, a
interrogou:
-
O que você vai fazer com esse livro, minha filha?
Laurinha estufou o peito e
informou:
-
Vou dá-lo a alguém!
Com serenidade, o pai tomou o
livro da filha, afirmando:
-
Este livro não é seu Laurinha. É meu, e você não pode dá-lo a ninguém.
Tremendamente desapontada,
Laurinha resolveu dar uma volta. Estava triste, suas tentativas para fazer a
caridade não tinham tido bom êxito e, caminhando pela rua, continha as lágrimas
que teimavam em cair.
-
Não é justo! – resmungava. – Quero fazer o bem e meus pais não deixam.
Nisso, ela viu uma coleguinha da
escola sentada num banco da pracinha. A menina parecia tão triste e desanimada
que Laurinha esqueceu o problema que a afligia.
Aproximando-se, perguntou gentil:
-
O que você tem Raquel?
A outra, levantando a cabeça e
vendo Laurinha a seu lado, desabafou:
-
Estou chateada, Laurinha, porque minhas notas estão péssimas. Não
consigo aprender a fazer contas de dividir, não sei tabuada e tenho ido muito
mal nas provas de matemática. Desse jeito, vou acabar perdendo o ano. Já não
bastam as dificuldades que temos em casa, agora meus pais vão ficar preocupados
comigo também.
Laurinha respirou, aliviada:
-
Ah! Bom, se for por isso, não
precisa ficar triste. Quanto aos outros problemas, não sei. Mas, em relação à
matemática, felizmente, não tenho dificuldades e posso ajudá-la. Vamos até sua
casa e tentarei ensinar a você o que sei.
Mais animada, Raquel conduziu
Laurinha até a sua casa, situada num bairro distante e pobre. Ficaram a tarde
toda estudando.
Quando terminaram, satisfeita,
Raquel não sabia como agradecer à amiga.
-
Laurinha, aprendi direitinho o que você ensinou. Não imagina como foi
bom tê-la encontrado naquela hora e o
bem que você me fez hoje. Confesso que não tinha grande simpatia por você.
Achava-a orgulhosa, metida, e vejo que não é nada disso. É muito legal e uma
grande amiga. Valeu.
Sentindo grande sensação de
bem-estar, Laurinha compreendeu a alegria de fazer o bem. Quando menos
esperava, sem dar nada material, percebia que realmente ajudara alguém.
Despediram-se, prometendo-se
mutuamente continuarem a estudar juntas.
Retornando para a casa, Laurinha
contou à mãe o que fizera, comentando:
-
A casa de Raquel é muito pobre, mamãe, acho que estão necessitando de
ajuda. Gostaria de poder fazer alguma coisa por ela. Posso dar-lhe algumas
roupas que não me servem mais? – Perguntou, algo temerosa, lembrando-se das
“broncas” que levara algumas horas antes.
A senhora abraçou a filha,
satisfeita:
-
Estou muito orgulhosa de você, Laurinha, Agiu verdadeiramente como
cristã, ensinando o que sabia. Quanto às roupas, são “suas” e poderá fazer com
elas o que achar melhor.
Laurinha arregalou os olhos,
sorrindo feliz e, afinal, compreendendo o sentido da caridade.
- É verdade mamãe. São minhas!
Amanhã mesmo levarei para Raquel. E também alguns sapatos, um par de tênis e
uns livros de histórias que já li.
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