Carlinha costumava sempre brincar com seu vizinho, Hugo, que era bom, mas muito arteiro.
Um dia, Hugo ficou com raiva de Carlinha porque ela não quis brincar de esconde-esconde com ele, preferindo a companhia de uma amiguinha.
As meninas estavam brincando de casinha, quando o garoto, furioso, chegou, agarrou a boneca de Carlinha e saiu correndo com ela. A garota abandonou a amiga e saiu atrás dele. Quando conseguiu alcançá-lo, a boneca estava estraçalhada: braços para um lado, pernas para o outro e a linda roupa, rasgada. –
Carlinha pegou os restos da boneca de estimação e correu para casa, chorando muito.
– O que aconteceu, minha filha? – perguntou a mãe ao vê-la chegar aos gritos. Carlinha contou o que tinha acontecido, afirmando entre soluços.
– Nunca mais ou brincar com o Hugo. Nunca mais quero vê-lo. Nunca o perdoarei, mamãe.
A mãezinha pegou a filha no colo com imenso carinho, consolando-a.
– Sei que está sofrendo, filhinha, mas isso passa. Ele gosta de você e ficou com ciúmes, por isso reagiu assim. Vocês são tão amigos! Logo estarão juntos de novo.
Mas a pequena afirmava, decidida:
– Nunca, mamãe. Hugo não é mais meu amigo.
– Carlinha, boneca a gente pode comprar outra, minha filha. Mas uma amizade não tem preço. Algum dia você vai entender isso – ponderou, com calma.
Percebendo, porém, que naquele momento não adiantava dizer mais nada, pois a filha estava muito magoada, a senhora calou-se.
Dois dias depois, Carlinha estava triste e desanimada. Sozinha, não tinha ânimo para brincar, uma vez que perdera seu grande amigo.
Notando sua tristeza, a mãe sugeriu:
– Carlinha, porque não faz as pazes com Hugo? Ele já veio procurá-la e você não quis brincar nem falar com ele.
– Não consigo, mamãe.
A mãe, que estava preparando o almoço, parou e disse:
– Minha filha, que tal comprar uma bola nova para o Hugo? Ele vai gostar.
– Ah, mamãe! Ele destrói minha boneca preferida e eu ainda tenho que dar um presente a ele?
– Sabe por que, minha filha? Você estará fazendo um bem a ele. Hugo também está triste, se sentindo culpado pelo que lhe fez.
– Está bem. A professora de Evangelização disse, outro dia, que temos que praticar a caridade.
– Exatamente – concordou a mãe, sorrindo.
Mais tarde saíram e compraram uma linda bola. Depois, Carlinha foi levar o presente para ele, selando a paz entre eles.
Ao voltar, a mãe perguntou:
– Como foi seu encontro com Hugo, Carlinha?
A menina pensou um pouco e respondeu:
– Mais ou menos. Ele gostou da bola e pediu-me desculpas pela boneca quebrada.
– E você, não ficou contente?
Carlinha ficou calada, pensativa. Depois, contou:
– Sabe, mamãe. Fizemos as pazes, mas aqui dentro, bem no fundo – e colocou a mão no coração – ainda estou triste e magoada.
A senhora abraçou a filha, explicando:
– É que você ainda não o perdoou, minha querida. Lembra-se que falou que iria fazer um bem a ele, isto é, um gesto de caridade? Pois bem. Você fez a caridade mais fácil que é a material. Mas tem a caridade maior e mais difícil de ser praticada que é a caridade moral, especialmente, o perdão.
– É verdade. Ainda não o perdoei realmente.
– Para seu bem, procure esquecer o que ele lhe fez. Enquanto não perdoá-lo, você não será feliz, minha filha.
– Vou tentar, mamãe.
Alguns dias depois, Hugo foi procurar Carlinha. Trazia um pacote nas mãos.
– Isto é para você, Carlinha. Sei que não é a mesma coisa, mas gostaria que você aceitasse.
A menina abriu e viu uma linda bonequinha, nova em folha.– É linda, Hugo! Como conseguiu?O menino, com olhos brilhantes e o peito estufado de satisfação contou:– Quando quebrei sua boneca me senti muito mal. Você sabe que somos pobres e mamãe não teria dinheiro para lhe comprar outra boneca. Mas, eu queria reparar meu erro.
Pedi ajuda a algumas pessoas amigas, e comecei a trabalhar para ganhar alguns trocados.
Lavei carros, limpei jardins, varri calçadas, entreguei encomendas, arrumei cozinha, cuidei de cachorros, e muito mais. Assim, consegui comprar, com meu esforço, essa boneca para você.
Carlinha estava surpresa. Não pensou que ele tivesse ficado tão abalado.
– Você não diz nada, Carlinha. Aceite o presente, com meu pedido de desculpas. Estou muito arrependido. Por favor!
Olhou o garoto que, à sua frente, suplicava com lágrimas nos olhos, a menina aproximou-se dele e deu-lhe um grande abraço.
– Claro que eu o perdôo, Hugo. Somos amigos e a amizade não tem preço.
Naquele instante, Carlinha sentiu que de dentro do seu peito uma nuvem escura se desprendia, enquanto uma pequena luz começava a brilhar, produzindo bem-estar, paz e alegria.
E completou com um sorriso:
– Agora somos amigos para sempre!
TIA CÉLIA
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