sexta-feira, 18 de novembro de 2016

MONTE SUAS PRÓPRIAS AULAS




Fato comum na vida de um educador espírita é querer desenvolver um tema com seus alunos e não encontrar uma aula pronta. Por mais que algumas obras tentem preencher todas as necessidades do educador, sempre surgem dentro do interesse da turma, de situações vividas na classe ou dos assuntos momentosos ventilados na imprensa, oportunidades que não pode perder.
Outros grupos preferem criar suar próprias aulas o que, no nosso entender, seria o ideal. Não somos contrários aos currículos e programas importados de outras instituições, quando se mostram eficientes, mas entendemos que o educador sintonizado com o modo de ser de sua turma e com suas necessidades mais agudas tem mais condições de criar aulas que melhor atendem aos seus próprios objetivos, envolvendo as crianças com o tema da forma mais eficiente e profunda.
Como elaborar uma atividade com tema definido para uma aula?

1º passo: Definir o tema.

O ponto de partida é o tema da aula. Sobre o que vamos falar? 
Uma tendência observada nas nossas oficinas e cursos para educadores espíritas, quando se estuda um texto e se pergunta qual o seu tema, é obter respostas como: "egoísmo", "vaidade", "maledicência", etc. 
É claro que não vamos dar aula de egoísmo, mas é difícil para os educadores, de modo geral, definir qual a virtude presente naquele texto. Parece que nossos olhos ainda não estão treinados para enxergar pela ótica do bem.
Ora: vamos falar de confiança, caridade, humildade, cooperação. Quando fazemos esta troca, é incrível como as possibilidades do tema se ampliam! E junto com elas, as maneiras de desenvolvê-lo. Uma historieta sobre os malefícios do egoísmo praticamente termina em si mesma, como uma lição de moral sem grandes vôos para a imaginação e sem abertura para reflexão. Falar sobre a caridade, sobre como a entendemos e como podemos praticá-la, é muito mais interessante.

2º passo: Definir o objetivo.
Toda aula tem um objetivo que compõe, junto com os objetivos das demais aulas, o caminho até uma compreensão mais clara e profunda da vida espiritual e das leis de Deus. Entendemos que esta compreensão não está separada do autoconhecimento, o que significa que em cada aula, pelo menos em tese, deveríamos igualmente descobrir algo sobre nós mesmos.
Pode haver muitos objetivos com relação ao mesmo tema. É possível que todos sejam importantes, mas recomendamos que se escolha um, aquele que vamos nos empenhar em atingir naquele momento. Podemos falar do mesmo tema, com outro objetivo, em próxima oportunidade.
Todo objetivo pode ser encarado como uma pergunta básica, para a qual vamos buscar respostas dentro da estratégia escolhida. Respondê-la vai ser o foco de nossos diálogos e reflexões.

3º passo: Pesquisar textos e material.

Um educador envolvido com seu trabalho está sempre ligado a ele. Se vai preparar a aula da semana seguinte, a idéia para ela pode surgir de uma música ouvida no rádio, de uma frase num outdoor, da cena de um filme, de uma revista folheada no consultório, da Internet, de um tipo de material ou tinta descobertos na aula de artesanato, do lixo reciclável, de um experimento de Ciências, das folhas caídas no chão, enfim, a qualquer momento e em qualquer lugar.
Nossa experiência nos mostrou que, quando estamos receptivos às intuições dos Espíritos orientadores, elas efetivamente surgem, sobretudo se mantemos os canais abertos e as antenas ligadas.
Mas é interessante que a casa espírita disponibilize uma biblioteca e recomenda-se que o educador, na medida do possível, constitua o seu próprio material de pesquisa, com recortes de jornais e revistas, livros, vídeos e outros.

4º passo: Criar uma estratégia que conduza ao objetivo definido.
A definição da estratégia está relacionada à idade e ao desenvolvimento psicossocial das crianças. De que modo este tema afeta nossos alunos? Como eles podem percebê-lo? Que tipo de atividade os interessaria?
Motivação
Toda atividade precisa de motivação. Motivar é criar interesse pelo tema e vontade de saber mais sobre ele. Tradicionalmente, isto é chamado de incentivação inicial. Preferimos falar em motivação porque carece estar presente do começo ao fim e, muitas vezes, quando percebemos que diminuiu durante a atividade, precisa ser retomada.
A motivação pode estar ligada à percepção da utilidade do assunto; à possibilidade de aplicação prática na vida; ao reconhecimento dos resultados; ao interesse real e envolvimento emocional do educador. O reforço positivo de comportamentos em classe também é altamente motivador.
Desenvolvimento
Vamos começar um diálogo sobre as questões relacionadas ao texto. Para isto, podemos usar uma dinâmica de grupo. 
Atividades Finais
Proponha uma atividade recreativa ou artística, de preferência interativa, como a criação de frases, textos, cartazes, desenhos, onde se possa de alguma forma sintetizar as respostas encontradas pelo grupo. 

5º passo: Avaliar resultados.

A avaliação é permanente, pelas próprias respostas e atitudes dos alunos, não só no presente, mas no futuro. 
Avalie o seu próprio desempenho: se você foi claro, criativo, intuitivo, ou confuso, rígido... Soube perceber quando a discussão tomava um rumo interessante e explorá-lo? Houve momentos em que a aula ficou cansativa? Por quê? Houve momentos em que receou se perder do objetivo? Ele foi atingido?
Utilize esta avaliação para planejar suas próximas aulas.
Pondo em prática
Às vezes não é fácil ser racional e intuitivo, seguir o planejamento e, ao mesmo tempo, ter agilidade para mudar se necessário, e ninguém pode ensinar como fazer isto.
Muitos deixam de ser mais hábeis e criativos nas aulas por medo de errar. Aliás, um dos grandes fatores de ansiedade para os educadores que temos encontrado em nossas caminhadas é a insegurança quanto ao conteúdo. Será que realmente estão em condições de abordar um tema doutrinário com clareza e precisão? - eis o que nos perguntam.
Sempre digo que quem vai falar de Espiritismo para as crianças e os jovens deveria ser o mais assíduo participante dos estudos doutrinários da Casa. Mas há duas realidades que precisamos encarar:

1º)Jamais vamos saber tudo, absolutamente tudo, portanto nem sempre teremos todas as respostas.  
 É bem verdade que aprenderemos muito enquanto planejamos as próprias aulas, lendo livros, mas nosso saber doutrinário tem necessariamente um limite. 

2º)Mais cedo ou mais tarde, todos podemos nos enganar. Aliás, é muito raro encontrar alguém que nunca se enganou. Podemos dizer alguma bobagem, deixar uma impressão errada com relação ao tema. Por isso, sempre que vamos pesquisar um assunto, é recomendável verificar o que as obras de Allan Kardec dizem sobre ele.
E quando não soubermos como responder uma pergunta, o melhor é dizer que não sabemos, mas que vamos procurar nos informar. Assuma, quando der uma resposta da qual não tenha plena certeza e confie nisto: se você errar em alguma informação fundamental, a vida lhe trará a oportunidade de rever e de retomar o assunto com o enfoque correto.
Às vezes, nossa insegurança não vem da falta de conhecimento de Espiritismo, mas é um traço emocional, faz parte da nossa personalidade e também aparece em outras ocasiões. Será que este não é o seu caso?
Montar um plano de aula bem estruturado, conhecer bem os seus alunos e confiar nos Amigos Espirituais são maneiras de diminuir ansiedades e inseguranças.
Cobrar de si mesmo perfeição e infalibilidade é um dos aspectos da vaidade e do orgulho. Ser natural e aceitar a possibilidade de falhar é ter humildade e aceitar-se como ser humano e como Espírito em evolução.
Respeito, naturalidade, sinceridade e dedicação vão nos ajudar a progredir em conhecimentos e na tarefa educacional.

Exemplo prático

Vamos verificar um plano de aula com base nos passos sugeridos acima?
Tema: Espiritualismo e Espiritismo

1ºpasso: Definir o tema.
Conceituação do Espiritismo: O que é o Espiritismo? O que caracteriza mais fortemente o Espiritismo enquanto Doutrina?

2ºpasso: Definir o objetivo.
Nosso objetivo principal será levar a perceber as principais diferenças entre o Espiritismo e o Espiritualismo. O trabalho será dirigido à Pré-mocidade, na faixa dos 12 aos 14 anos. Pergunta-chave: qual a diferença entre Espiritismo e Espiritualismo?

3ºpasso: Pesquisar textos e material.
Em O Livro dos Espíritos, vamos buscar na "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", primeiro parágrafo, como Kardec define estas duas palavras.
Vamos procurar figuras ou músicas que mostrem manifestações de crenças espiritualistas de todo o mundo, como Budismo, Catolicismo, Xamanismo, Hinduísmo, Judaísmo, etc. 
Há também um texto intitulado "Espiritualismo e Espiritismo", escrito por nós, que se encontra no livro Um Pouco Por Dia, Ed. EME. É uma fonte adicional de consulta.

4ºpasso: Criar uma estratégia que conduza ao objetivo definido.

Motivação

Nossa proposta é de preparar o ambiente espalhando fotos ou imagens diversas de manifestações espiritualistas, no maior número possível.
Frases ou pequenos textos de tradições diversas podem ser usados. Mantras, canto gregoriano, tambores rituais, etc. fariam o fundo musical. Coloque também O Livro dos Espíritos, em destaque.
Os alunos entrarão na sala e serão estimulados em sua curiosidade a respeito do material exposto. Esta já é uma maneira de levar a perceber também a sociedade e suas diferenças, o que, nesta faixa etária, se torna bastante interessante.
Desenvolvimento
Quando todos estiverem presentes, peça que se sentem, desligue a música e pergunte se eles sabem o que é tudo aquilo. O que aqueles sons, imagens e textos têm em comum? Todos representam a crença em alguma realidade fora da matéria. 
E o Espiritismo? Onde se encaixa?
Inicie um diálogo, com base no texto pesquisado n' O Livro dos Espíritos.
Destaque o fato de que todas as crenças são legítimas e precisam ser respeitadas.
O Espiritismo, porém, tem algumas características que o diferenciam do Espiritualismo (ver quadro comparativo).

Atividades Finais

Confeccione tiras com as características apresentadas no quadro. Use uma cartolina dividida ao meio com as palavras Espiritualismo e Espiritismo escritas no alto, uma de cada lado. Peça aos alunos, um a um, que vão pegando da mesa as tiras e colocando-as nos lugares certos.
Peça aos alunos que, se souberem, completem o quadro com outras diferenças, sempre justificando suas opiniões. Que tal ouvir as músicas novamente?

5ºpasso: Avaliar resultados.

Proponha aos alunos que montem, em grupo ou individualmente, uma apresentação destacando e explicando as principais características da Doutrina Espírita estudadas. Ex.: Fé raciocinada, o que é, qual sua importância; etc. Este trabalho poderá ser apresentado no próximo encontro.
Agora, se perceber que a classe já está madura para um estudo mais minucioso, indique a leitura de O Livro dos Espíritos, "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, VI - Resumo da Doutrina dos Espíritos". Peça que cada um escolha um parágrafo e traga um pequeno comentário sobre ele, no próximo encontro, explicando o que entendeu.


 Rita Foelker -

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