quinta-feira, 26 de março de 2020

MOEDAS ESPIRITUAIS


 Em uma cidade grande havia uma família que amava a Deus sobre todas as coisas e compreendia ser o trabalho uma necessidade para seu sustento digno e honesto. O chefe da casa levantava-se todos os dias bem de manhãzinha e ia para o trabalho, contente e feliz, pela saúde que gozava. Em baixo do braço levava sua marmita que não tinha muita coisa, mas quando a fome viesse, lá pelas onze horas... que gostoso o feijão, o arroz, a farinha e também o pedaço da pão! Não estava lá muito macio, mas como era bom comê-lo. Sua esposa, senhora também muito dedicada, não media esforços para auxiliar o marido no sustento da casa. Mal ele saia para o trabalho, lá ia ela para o tanque esfregar roupas. Não reclamavam nunca da vida, porque confiavam em Deus. Possuíam dois filhos; um dedicava-se ao estudo, com grande vontade de aprender. Desejava ser um médico, engenheiro, qualquer coisa importante, para poder auxiliar seus semelhantes. Desejava também, quando crescesse, constituir uma família, mas que não fosse tão pobre quanto a sua agora. Que não houvesse tanto sacrifício para ganhar o pão de cada dia. Desde muito crianças, ambos já ouviram do pai e dá mãe, a leitura do Evangelho. Quanta coisa bonita Jesus havia ensinado ao homem! E Ele não só ensinava, mas fazia também tudo aquilo que pregava. Os dois meninos gostavam das reuniões que seus pais faziam todas as quintas-feiras à noite, quando eram lidas as passagens daquele maravilhoso livro. Sentiam-se profundamente emocionados com aqueles ensinamentos e prometiam a si mesmos serem sempre bons e procurarem seguir aqueles conselhos. O tempo foi passando, e muitos anos depois, ambos eram homens feitos. O primeiro, havia estudado bastante e tornara-se um juiz famoso. Embora gozasse da estima e do respeito de todos os habitantes da cidade, não se esqueceu da promessa que fizera quando criança. Estudando sempre o Evangelho, defendeu os humildes, auxiliou os pobres e libertou muitos prisioneiros perseguidos injustamente. De juiz tornou-se legislador e fez muitas leis benéficas e edificantes. Casou-se também e possuía uma família muito feliz. Viveu sempre honrado, rico, feliz e correto. O irmão, porém, era paralítico. Não podia trabalhar para acumular algum dinheiro. Não possuía cultura também para melhorar de vida. Como comparar-se ao irmão se não tinha recursos, não possuía sabedoria, não possuía forças, tinha até as pernas mirradas... O leito sempre fora sua residência. Buscou, entretanto, no estudo do Evangelho um meio para que pudesse também, de alguma forma, ser útil aos seus semelhantes. Lembrou-se do serviço da oração. Desde pequenino, gostava de orar. Começou seu trabalho pela humilde mulher que lhe fazia a limpeza doméstica. Viu-a triste e chorosa e procurou, discretamente, conhecer a razão de sua mágoa. Confortou-a com ternura de irmão. Convidou-a a orar e suplicou para ela as bençãos divinas. A senhora sentiu-se melhor e mais tarde passou a trazer outros sofredores que pediam o auxílio da prece. O aposento singelo encheu-se de necessitados. O paralítico orava em companhia de todos, oferecia-lhes o sorriso de confiança na bondade celeste. Comentava os benefícios da dor, expunha suas esperanças no Reino de Deus, dando de si mesmo, gastando emoções e energias no santo serviço do bem. Escrevia inúmeras cartas, consolando viúvas e órfãos, doentes e infortunados, aconselhando-os a ter esperança e coragem. Comia pouco e repousava menos. Tanto sofreu com as dores alheias, que chegou a esquecer-se de si mesmo e tanto trabalhou à noite, que perdeu o dom da vista. Cego, contudo, não ficou sozinho. Continuou sempre rodeado de sofredores aos quais ajudava, cada vez mais, através da prece e dos conselhos. Desencarnaram ambos os irmãos em idade bastante avançada, com pequena diferença de tempo. Quando se reuniram no mundo espiritual, apareceu-lhes um Mensageiro que vinha pesar as ações de cada um, enquanto viveram na Terra. O primeiro, o juiz, trazia uma grande bolsa, recheada de dinheiro e de muitas sentenças que havia distribuído em benefícios dos outros. Muito auxiliara a seus semelhantes quando em serviço no mundo. O outro, paralítico, trazia apenas um livro pequeno, onde costumava escrever suas preces e rogativas. Ao examinar a pasta que trazia o primeiro, o Mensageiro de Deus abençoou-o pelo conforto e pela justiça que havia espalhado na Terra. Seria feliz no mundo dos espíritos, porque fizera o bem e a lei assim o indicava. Quando o mensageiro, porém, abriu o livro do ex-paralítico, uma luz intensa saiu de suas páginas, envolvendo tudo numa coroa resplandescente. A justiça foi incapaz de indicar-lhe a grandeza. Então o mensageiro disse-lhe: Teu irmão é bendito na casa do Pai pelos recursos que atribuiu em favor do próximo, entretanto, o dinheiro e a fama multiplicam-se com facilidade na Terra. Ele distribuiu os donos da vida. Tu, porém, serás mais feliz ainda, porque deste de ti mesmo, no amor santificante. Gastaste as mãos, os olhos, o coração e as forças, os sentimentos e o tempo em benefício dos semelhantes. Por isso a Lei determina que tua morada seja mais alta. Não distribuíste os dons da vida: Irradiaste os dons de Deus.











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